Durante os últimos dias
acendeu-se uma discussão que motivou petições, abaixo assinados, horas de
justificações e contra justificações na comunicação social, nas redes sociais e
em todos os lados onde se juntavam duas pessoas.
Tudo a propósito da contratação
de um antigo secretário-geral de um dos partidos que costumam governar o país,
para fazer comentário político na estação pública de televisão.
Não consegui perceber o porquê
desta azáfama em torno desta contratação que não representa nenhuma novidade no
panorama da comunicação no nosso país.
Basta olhar o espaço de
comentário das televisões, generalistas ou vocacionadas para a área noticiosa,
para se perceber que a principal (diria quase exclusiva) fonte de recrutamento
para desempenhar a tarefa de comentar a actualidade política encontra-se em
dirigentes ou ex-dirigentes dos dois partidos que, com bengala ou sem bengala,
têm desgovernado o país nas últimas décadas.
O comentário político, forma cada
vez menos subtil de nos porem todos a pensar pelas mesmas cabeças, é uma
coutada exclusiva do PS e do PSD quer através dos seus barões, quer através de
alguns serventuários com o rótulo de independência, desmascarada logo à segunda
ou terceira frase atirada para o ar.
Por isso me espantou que em
relação ao inominável se lançassem petições contra e a favor da sua presença na
televisão pública, quando o que deveríamos peticionar era a abertura ao espaço
de comentário político de gente de todas as tendências, em particular aquelas
que têm representação parlamentar.
É claro que este espanto é
relativo porque tenho consciência que o papel desempenhado pelos diversos
profissionais do comentário foi de tal forma eficaz que a maioria já acha que
ouvindo o Professor Marcelo e sua partner está a ter acesso a opinião
independente e isenta, ou que ouvindo Marques Mendes e Augusto Santos Silva
está realizado o saudável princípio do contraditório.
Esta discussão em torno do nome
de um comentador é tão nova e interessante como a discussão sobre de quem foi a
responsabilidade política pelo caminho que nos trouxe até ao empobrecimento e a
desesperança.
Basta rever a história recente
com atenção, para percebermos que a origem é exactamente a mesma onde as
estações de televisão vão buscar os comentadores políticos que nos tentam
formatar o pensamento.
É por estas razões que não assino
petições contra a presença deste ou daquele na televisão, mas assinaria de bom
grado uma petição que exigisse igual tratamento a todas as fontes de opinião
política, fugindo a esta coisa cinzenta de ouvirmos as mesmas coisas saídas de
bocas diferentes como se a mudança de rosto significasse diferença de
pensamento.
Não faria sentido assinar uma
petição contra a presença do inominável e não ter a mesma atitude para com
Santana Lopes, por exemplo.
Eu quero lá saber quem diz.
Interessa-me é o que diz. E quanto a isso, no espaço televisivo, dizem todos o
mesmo, matizando com cor mais alaranjada ou rosada as palavras que lhes saem da
boca.
Agora algo mais sério.
Que tal
uma petição que exija duas coisas simples?
Que o governo se demita e que o
António José pare de escrever cartas à troika onde jura fidelidade eterna ao
memorando onde eles, fazendo-se de desentendidos, se entenderam, para nossa
desgraça colectiva.
Eduardo
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