A apresentação do Orçamento de Estado para 2009 teve a aparência de uma rábula política.
Apesar da pen-drive, o fascínio pelas grandes tecnologias não consegue esconder a iliteracia nem a incompetência política, apenas torna tudo mais evidente.
Aliás, o titular das Finanças mais parecia o ministro do Tédio parado no meio de um país sucessivamente adiado.
Implacável, o Orçamento de Estado é um documento para um país realmente adiado.
Sócrates prepara a estagnação para 2009 com um Orçamento politicamente habilidoso – disfarça as eleições com a crise internacional.
Depois da beatificação do deficit a todo o custo, segue-se a apologia das famílias, da função pública, dos empresários e da melhoria das condições gerais do país.
O primeiro-ministro não apresentou o Orçamento, mas brindou Portugal com uma brilhante confissão de inconsistência política.
Em abono da verdade, a visão e os princípios políticos do primeiro-ministro coincidem com as indicações específicas de Bruxelas.
Afinal, qual será o verdadeiro e real Sócrates – o homem da austeridade ou o símbolo da bonança?
Provavelmente, ambos em semanas alternadas.
Por outro lado, o Orçamento é apresentado como um exercício de realismo, prudência e rigor. Eis finalmente uma frase pacífica – realismo face ao ano eleitoral, prudência porque as eleições ganham-se nas urnas e rigor na asfixia política da oposição. Coerente na convicção das conveniências, Sócrates oferece ao país um Orçamento economicamente arriscado, mas eleitoralmente seguro.
O Orçamento é a dose nacional de Prozac para 2009.
No futuro, as consequências continuarão a ser pagas pelos portugueses.
Entretanto, o país vagueia numa espécie de atraso que alguns julgam ser a face primeira do progresso.
E que dizer da oposição?
Uma conclusão salta à primeira vista – o PSD não se ouve no país. O PSD vive no pior dos mundos quando tem uma líder, mas não tem liderança.
Sem disciplina, inseguro na tradição política que representa, o PSD perdeu o hábito de vencer. Quanto a Ferreira Leite, a líder deve entender que não chefia uma Igreja.
Tal significa que não tem todo o tempo do mundo e uma autoridade natural que lhe permitam definir o tempo das declarações.
Em política existe a necessidade de falar e ser visto, respondendo à regra básica da discussão entre os opostos.
Existe em Portugal todo um eleitorado de centro-direita que exige uma alternativa política.
Um eleitorado que não vai esperar eternamente pelo PSD.
Carlos Marques
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