JOVENS LICENCIADOS DO DISTRITO - SONHOS DESFEITOS
Cinco pessoas. Todos jovens licenciados, com diferentes formações, mas com algo em comum, na medida em que se encontram a fazer algo que nunca sonharam ou desejaram. Foi através do Programa Conta Corrente, transmitido na Rádio Portalegre, que os conhecemos, bem como a sua história de vida. Aqui se reuniram uma mão cheia de jovens licenciados que o caminho levou por caminhos nunca sonhados: o desemprego, o balcão, o biscate.
Sandra Foto é uma dessas jovens. Natural de Fronteira, tem o curso de Animação Educativa e Sócio Cultural, da Escola Superior de Educação de Portalegre (ESEP) e, neste momento, encontra-se no desemprego. Segundo confessa, a única solução que agora encontrou foi ir para o Rendimento Mínimo Garantido depois de tantas entrevistas que fui e tantos nãos. Inscrita no Centro de Emprego há um ano, a jovem confessa que o seu pai adoeceu e começou a fazer hemodiálise, o que fez com que a situação se tenha tornado cada vez mais difícil.
Segue-se Rosa Catarro, natural de Montemor-o-Novo, licenciada pelo Curso de Educação de Infância, na ESEP. Ser educadora sempre foi o seu sonho que, segundo revela, ainda continua a ser um sonho, porque continuo a acreditar que hei-de ser educadora e hei-de conseguir trabalhar na área que escolhi. No entanto, não faz ideia de quando será alcançado, até porque o seu contrato no Modelo, onde se encontra a vender os cartões que dão descontos e proporcionam pagamentos de diferentes formas e com bastantes facilidades, termina no mês de Novembro. A trabalhar numa área que nada tem a ver com o curso que tirou, a jovem confessa que não sabe qual será o seu futuro que, possivelmente, passará também por uma candidatura ao Rendimento Mínimo Garantido para tentar sobreviver.
João Carlos Monteiro, licenciado em Comunicação, pela Universidade da Beira Interior, começou por fazer rádio em cima de uma caixa de uma televisão antiga em 1982. Ao longo destes 15 anos, passou por rádios e jornais, exercendo também outras funções. Foi também professor, durante cerca de nove anos, no Curso Tecnológico de Comunicação, o qual o Ministério da Educação entendeu que estava a mais nos programas lectivos e terminou com ele, conta.
Marinela Sequeira, professora do Ensino Básico, licenciada no 1º Ciclo pela ESEP está também desempregada. Oriunda de Proença-a-Nova, trabalhou no hipermercado E. Leclerc, em Portalegre.
Confessando que o ensino é para mim uma vocação, Marinela Sequeira garante que quando uma pessoa desempenha outros trabalhos não se sente muitas vezes realizada e tem sempre aquele sonho de um dia poder leccionar, trabalhar na sua área. Neste sentido, revela que o seu curso é um sonho que me faz acordar todos os dias e pensar que um dia vou conseguir trabalhar na área.
O último exemplo é de Luís Martins, um jovem licenciado em Filosofia que se encontra a fazer biscates, vendendo cafés numa associação em Portalegre. Afirmando que os caminhos da Filosofia são hoje diferentes e complicados para mim, Luís Martins garante que a Filosofia continua a ser, sem dúvida, a minha vocação. Recordando que pensou em tirar um curso para leccionar, porque o objectivo era ser professor e depois porque gostava imenso de Filosofia, o jovem conta que, neste momento, está desempregado, encontrando-se a ajudar num café de uma sociedade de Portalegre. Considerando que este é um trabalho honrado, o jovem declara que costuma fazer, em casa, algumas planificações e estudos extra e que muitas das vezes pergunto-me porque é que estou a fazer isto. Sem trabalho, sem um objectivo definido, torna-se por vezes complicado, realça, acrescentando que em Portalegre as coisas estão muito complicadas para se conseguir algo.
Rosa Catarro conta que terminou o seu curso em Junho deste ano e que para além do Modelo não andei por grandes locais. Depois de estar licenciada, correu todos os jardins-de-infância da zona de Portalegre e concelho de Estremoz, enviou também currículos para todo o lado, desde Bragança a Faro. De momento encontra-se à espera de alguma resposta de algum lado, pois as duas que recebeu foram negativas, dado não tinham vaga para mim.
Falando das conhecidas cunhas, João Carlos Monteiro recorda que há cerca de 10 dias, através de um amigo seu, teve uma proposta de emprego. O meu amigo levou-me a falar com uma determinada pessoa e a primeira coisa que me disse foi: é licenciado não pode ser, isto porque considerava que tinha habilitações a mais, lembra. Criticando que há pessoas no Distrito licenciadas, com conhecimentos e até experiência profissional que se encontram em casa, João Carlos avança que o subsídio que recebe é uma percentagem do último vencimento que teve, e o qual dá para pagar os papéis para enviar currículos, mas que acaba e por isso é preciso ter alguém que seja uma base de sustentação para que a pessoa não fique ao abandono. A mesma opinião é também partilhada por Marinela Sequeira que confessa que, agora que está no desemprego, conta também com o apoio da família. Na sua opinião é uma pena Portugal ser um País com tantas pessoas com qualidades e capacidades, onde não se aproveitam os recursos humanos que têm. Quanto à sua experiência profissional conta no currículo com uma experiência de atendimento ao público - operadora de caixa - uma profissão que até lhe agradou, na medida em que gosto de comunicar e falar com as pessoas. No entanto, Marinela Sequeira defende que a pessoa tem sempre tendência para querer mostrar mais, porque estar numa posição limitada não me sentia realizada. Quando acabou o curso, a jovem fez ainda um estágio na Casa Museu José Régio de nove meses, também ligado ao serviço educativo com crianças, trabalhou na Vodafone e deu explicações. Contudo, não desiste do seu sonho de um dia poder exercer a sua profissão. Nunca me arrependi de ter tirado o curso, o que me arrependo é infelizmente da falta de informação que nós temos, conclui.
Confessando que o estrangeiro pode ser uma hipótese, Rosa Catarro conta que dos 38 alunos que faziam parte da sua turma apenas cinco se encontram neste momento a trabalhar. Marinela Sequeira acrescenta também que já pensou em dar um salto até outros países, porque penso que aí eles apostam mais na qualidade, nas pessoas e respeitam o trabalhador. No entanto, ainda não o fez. Quanto à jovem Sandra Foto, devido à sua situação familiar, vai agora para o Rendimento Mínimo Garantido, um apoio que conseguiu através de uma colega, se não ainda hoje estava sem saber o que fazer à minha vida, afirma. Ao fim de muitos currículos enviados para diversas instituições, na semana passada foi seleccionada para a Santa Casa da Misericórdia de Marvão. Apesar desta excelente notícia, a jovem declara que não se consegue governar com 200 euros e ainda por cima a recibos verdes uma vez por semana. Na sua opinião, é muito difícil e ninguém pode fazer a sua vida nesta situação e ainda por cima já trabalhei e tive outras experiências. Tenho já um ramo vasto na área.
Estes são apenas cinco exemplos de muitos mais que existem espalhados um pouco por todo o país. Uma realidade que não agrada mas que, infelizmente, aumenta a cada ano que passa.
Catarina Lopes
Rádio Portalegre
Fonte Nova
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