PONTE DO SOR
PONTE DO SOR, UM ESPAÇO DE LIBERDADE BANHADO PELO RIO SOR
segunda-feira, 30 de junho de 2008
sexta-feira, 27 de junho de 2008
O TAVEIRA PINTO CAIU NO CONTO DO VIGÁRIO....
representante do
príncipe da Transilvânia,
por suspeita de burla
Em algumas situações apresentava-se como sendo belga, em outros casos luso-francês.
SIC
Etiquetas: Aeródromo Municipal de Ponte de Sor, Aviões, Câmara Municipal de Ponte de Sor, Fábrica de Aviões, Ponte de Sor, Trafulhices, Vigarices
PORREIRO, PÁ!
Contudo, essa aprovação não esconde três factos sensíveis.
Em primeiro lugar, tirando o Governo, e talvez a UGT, ninguém ficou satisfeito. A CGTP não subscreveu o acordo, que considera um ataque à contratação colectiva, ao movimento sindical e à conciliação entre vida pessoal e familiar. Os patrões dizem que se acordou o possível, mas não o bastante, na medida em que continuam a impor-se restrições aos despedimentos e à livre contratação entre empresas e empregados. E os partidos à esquerda do PS falam de retrocesso no Direito Laboral.
Em segundo lugar, percebe-se que o trabalhador anónimo não faz a menor ideia do que se está a passar. Não entende em que medida a nova legislação vai impactar a sua vida, conferindo-lhe maior segurança ou insegurança, aumentando ou diminuindo os seus proventos, dando-lhe ou retirando-lhe meios para se pensar no futuro.
Em terceiro e último lugar, as alterações agora aprovadas inscrevem-se num movimento internacional que configura, efectivamente, uma machadada profunda nas conquistas dos trabalhadores que, em todo mundo, alcançaram melhores condições de vida. É por isso que a OCDE veio dizer que a legislação portuguesa é restritiva, e que é preciso liberalizar o mercado de trabalho e os despedimentos individuais. É também por isso que os países da União Europeia aprovaram novos limites da jornada de trabalho para 65 horas semanais, ao melhor estilo dos idos escravizantes da revolução industrial.
Por isso, bem pode Sócrates repetir o seu Porreiro, pá!, que haverá sempre um qualquer Angel Gurria a dar-lhe um puxão de orelhas. E, o pior de tudo, é que, por este caminho, as convulsões sociais só podem crescer até à explosão.
M.C.
Etiquetas: José Sócrates, Nova Legislação Laboral, Partido Socialista, Trabalho
quarta-feira, 25 de junho de 2008
ÚLTIMAS: PONTE DE SOR DELPHI ENCERRA: 500 TRABALHADORES PARA O DESEMPREGO [ XXI ]
DA
DIRECÇÃO DA COMISSÃO
POLÍTICA DO PSD DE PONTE DE SÔR
Pela nossa terra
Caros Concidadãos,
Na sequência do anúncio do encerramento da DELPHI, recentemente fomos brindados em nossas casas, com dois comunicados do executivo municipal, liderado pelo Partido Socialista, comunicados estes, como sempre, no melhor estilo a que já estamos habituados, grosseiros, ofensivos, e, como sempre, depois de 15 anos sob gestão PS, continuam a falar do passado, mas nada informam ou esclarecem.
Releva-se apenas que este executivo socialista, pretende adquirir as instalações fabris a um preço simbólico, que num ápice, qual golpe de magia teria ali, uma ou duas empresas, que absorveriam os futuros desempregados do concelho, mais do que isso, absorveria, 600 a 700 postos de trabalho.
É caso para perguntar: porque não se começa já a fazer um pavilhão para dar a tão interessados industriais?
Questiona-se então que indústrias são estas que fazem depender o seu projecto industrial de naves industriais já construídas?
Ou ainda, (porque se assim é) por que motivo, a câmara não exerceu o direito de compra das instalações da Presvial, como lhe foi proposto pelo PSD?
Ou será que vamos ali ter mais uma cadeia de lojas, com direito a bandeira do município hasteada, para acabar de vez com o comércio local?
Que politica industrial é esta, que em anos de crise económica o município andou a multar alguns industriais do concelho por não terem criado os empregos que prometeram?
Por que ainda não foi capaz de criar um Gabinete de Apoio às pequenas e médias empresas do concelho, aflitas com uma crise económica profunda são ainda por cima sobrecarregadas com processos da ASAE, da Inspecção do Trabalho, do SEPNA, do Ambiente, etc? Que fez a câmara para os ajudar?
E para contrariar este desemprego, onde estão as centenas de postos de Trabalho em Montargil?
Onde estão as contrapartidas à população de Montargil da venda do parque de campismo?
Onde estão as contrapartidas da venda das herdades do município, hotel de 5 estrelas, 200 postos de trabalho?
Uma palavra de louvor e de agradecimento a todos os colaboradores da DELPHI, que trabalharam para que esta empresa tenha sido um marco indelével na história do concelho da região e do país. Afinal, foram uns heróis que aguentaram 30 anos quando tinham já concorrência desleal há muito tempo:
Tinham matérias-primas próximas? Não
Tinham fornecedores próximos? Não
Tinham os clientes próximos? Não
Tinham a energia barata? Não
Tinham os combustíveis baratos? Não
Não se percebe como esta autarquia (ainda) não soube aproveitar o facto de ter a ferrovia junto à sua zona industrial.
Um quadro económico desfavorável a nível mundial e a concorrência dos países de Leste, ajudado pela Comunidade Europeia, da mesma forma que nos ajudou a nós, permite agora esta decisão.
O mínimo que agora se esperaria de um governo e uma autarquia ditos “socialistas” é que procurassem isentar de tributação fiscal as compensações que os trabalhadores irão receber, especialmente aqueles de rendimentos inferiores.
É imoral, vergonhoso até, que se taxe quem perca o seu posto de trabalho por extinção do mesmo.
Estamos fartos desta retórica socialista que se pavoneia pelo estrangeiro apenas com finalidades culturais sem captar investimentos ou ideias para o concelho, nomeadamente na área educativa.
Estamos fartos de comparações com os comunistas, pois esses já foram derrotados nas urnas, tiveram o seu tempo e têm direito a ser oposição, apesar das suas ideias ultrapassadas e irrealistas na defesa de uma sociedade sem classes.
Está gasto o argumento de que até têm feito alguma coisa nos últimos anos, como se isso não fosse um imperativo decorrente de quem recebe dinheiros públicos como se alegadamente fossem seus, aliás, comparem-se as mesmas obras noutros concelhos do Distrito, as Piscinas do Crato, os Estádios em Elvas, o edifício da Câmara de Portalegre, a Praia Fluvial em Fronteira, por exemplo.
Há muito que deixaram de nos convencer que armados em moralistas se venham arvorar os únicos defensores daqueles com necessidades económicas.
O PSD, enquanto oposição séria, atenta e positiva que embora tenha estado de acordo com algumas iniciativas deste executivo, também entende que poderia ter sido feito muito mais e melhor, como por exemplo, no apoio às pequenas e médias indústrias, no apoio ao comercio local, na criação de um cartão do idoso para comparticipação nos medicamentos, numa melhor colaboração com as Misericórdias, proporcionando mais vagas e garantindo mensalidades mais baixas, no apoio ao desenvolvimento de outras modalidades desportivas, numa politica cultural a sério, de que tantos belos exemplos existem no país e mais uma vez, vejam-se dois ou três casos aqui do Distrito, no apoio inequívoco às instituições musicais que tanto têm dado pela nossa terra, enfim, por estes e outros motivos entendemos que era possível fazer melhor.
A Direcção da Comissão Política do PSD de Ponte de Sôr
NOTA: Este comunicado não foi pago pela câmara
Etiquetas: Câmara Municipal de Ponte de Sor, Comunicado da Direcção Política do PSD de Ponte de Sor. Desemprego, Delphi, Ponte de Sor, PSD Ponte de Sor
A ALEGRIA DOS CEMITÉRIOS
Pedro Passos Coelho quis saber qual o projecto, qual o programa, qual a doutrina, qual a estratégia que a Dr.ª Manuela Ferreira Leite possuía para resgatar a pátria dos malefícios do socialismo moderno de José Sócrates. A pátria ficou muito reconhecida, e até lhe saltou uma furtiva lágrima, com as estremecidas preocupações do desenvolto Passos. A Dr.ª Manuela Ferreira Leite, impassível, fechada, fatigada, gótica, na escura profundidade das suas cogitações parecia nem sequer ouvir.
Levemente rouco, místico, lívido, surgiu na noite o fatal Santana. Os jornalistas, muito animosos, agitaram-se com intenso regozijo. Agora é que é! O Congresso decorrera morno, lento, pesaroso. E o velho animador da congregação nunca se deixara substituir, nem entregara os créditos em mãos alheias. Falou em ética política, como se ele próprio constituísse uma garantia da verdade, uma força da consciência e, de certo modo, um instrumento da justiça. A plateia, ante a sumária execução, sorriu e aplaudiu.
O rosto da dr.ª Manuela Ferreira Leite, esse, permanecia o que tem sido: um enigma íntimo. Aliás, a substância do seu discurso (que Pacheco Pereira aplaudiu, frenético, com transporte e unção) foi o gélido resultado de uma assustadora ausência de ideias. Qualquer módica alegria de grupo fica ensombrada pelo mal-estar provocado por esta inexistência de empatia. A senhora nada disse de novo, nada acrescentou ao que já se sabia. Como nos comunicou António José Teixeira, naquele registo fúnebre que se lhe reconhece, a Dr.ª Manuela Ferreira Leite é irmã gémea do Dr. Cavaco. Quer dizer: cria uma atmosfera de frigorífico.
Ao imbricar para a esquerda, na vaga afirmação do social, a chefe do PSD lança a linha nas águas que pertenceriam aos socialistas. Estes, inclinando-se para a direita tinham pescado no lago dos sociais-democratas. Não há redenção possível para as duas agremiações. O seu discurso cuneiforme desenvolve um absurdo clima de bocejo, falso e letal. As diferenças entre o PSD e o PS são nulas. E, além de não empolgarem ninguém, nenhum dispõe de querer político nem de vontade moral.
Veja-se aquela gente do conclave de Guimarães. É a imagem devolvida da falta de paixão, da carência de vontade, da vacuidade de convicções, da ignorância rotativa. A alegria dos cemitérios.
B.B.
Etiquetas: PPD/PSD
ESTATISTICA SOCIALISTA
Enganam-se, as estatísticas dão muito jeito, mas realmente para a estratégia de ensino da Ministra o conhecimento não é muito importante.
Todos aqueles alunos são carne para canhão, gente destinada às novas oportunidades, ao ensino profissionalizante que os leve direitinhos para as caixas dos supermercados, ou a manicuras de salão de beleza do bairro.
O saber não lhes faz falta para o destino que lhes está destinado. Estive a ver um exame de matemática e, pronto não posso dizer que era muito difícil, tenho até que reconhecer que tem coisas que até o meu filho que anda no 4º ano sabia responder, mas acredito que foi mais difícil que alguns exames de alguns Engenheiros que andam por aí.
K.
Etiquetas: Educação
terça-feira, 24 de junho de 2008
É ESTA A QUALIFICAÇÃO QUE O GOVERNO OFERECE AOS PORTUGUESES? [ II ]
PARA HOMENS EM GERAL
E
MARIDOS EM PARTICULAR
Etiquetas: Educação, Formação Profissional, IEFP, José Sócrates, Partido Socialista
E O BURRO SOU EU?
Ou seja, os burros dos alunos (é assim que são tratados pelos inteligentes que nos governam, pelos inteligentes que os ensinam e pelos inteligentes que escrevem nos jornais) não se conseguem mexer com a carga que lhes põem em cima. Qualquer burro percebe isto. E qualquer burro também percebe que, para os burros dos alunos conseguirem andar um pouco mais depressa, tem de se lhe aliviar a carga.
Só mesmo os inteligentes deste país é que não percebem isto. Para os inteligentes, o mal reside na cultura do facilitismo, na falta de disciplina, na desvalorização do método e do esforço e a solução para o problema é, obviamente, carregar ainda mais o burro: com mais disciplinas, mais aulas de substituição, mais aulas de apoio, mais trabalhos de casa, mais horas de estudo, com programas mais exigentes, etc. etc. E há já mesmo quem defenda a vergastada, como se fazia antigamente, para fazer o burro andar.
Por mais que se explique, os inteligentes deste país não conseguem perceber que o peixe cozido não faz bem às crianças, se for comido em cima de um cozido à portuguesa.
REXISTIR
Etiquetas: Educação
segunda-feira, 23 de junho de 2008
EDUCAÇÃO...SEGURANÇA ESCOLAR
Enquanto os fenómenos de violência estão circunscritos, os casos de indisciplina são mais generalizados. Para intervir precisamos de um conhecimento aprofundado desta distinção, disse.
Conclusão prática e segura, derivada da confissão da ministra da Educação, Lurdes Rodrigues:
O Ministério da Educação deste governo, perante notícias alarmantes que já vinham a avolumar-se há meia dúzia de anos, sobre violência escolar ( aqui denunciada pelo CDS), não sabe ainda distinguir a violência, da indisciplina. Precisamos de um conhecimento aprofundado, diz a ministra. Estatístico, por suposto…
O seu ajudante, Valter Lemos, em 25 de Março de 2008, na TSF, ( entrevista aqui transcrita) tinha apresentado um panorama um pouco diferente, em que estes desconhecimentos estruturais, não constituíam problema. Tinha estatísticas para mostrar…assim:
O Ministério da Educação, como se sabe, tem tomado um conjunto muito vasto de medidas, que já permitiu uma diminuição de 35% das ocorrências nas escolas no último ano lectivo em relação ao anterior.
É o caso da criação dos coordenadores de segurança dentro das escolas, da constituição de Equipa de Missão para a Segurança Escolar, do reforço do programa Escola Segura, da colocação de 300 professores nas comissões de protecção de crianças e jovens em risco, o que aliás nunca tinha acontecido em Portugal...
Portanto, não me parece de todo que haja qualquer razão para criticar a acção do Ministério, na medida em que esta é visível e produz efeitos.
(…)
Às medidas que já mencionei, podemos acrescentar a vigilância electrónica ou o cartão do estudante, no âmbito do Plano Tecnológico da Educação, ou a alteração do Estatuto do Aluno, que reforça a autoridade dos professores e a capacidade de intervenção dos órgãos de gestão das escolas...
Mesmo assim, as Escolas portuguesas e o Ministério da Educação, ainda não sabem como lidar com o fenómeno.
Não será muito arriscado afirmar que…ninguém, à partida. Tudo segue o caminho do improviso e da desresponsabilização.
Se assim não fosse e houvesse uma verdadeira consciência cívica da parte dos professores e funcionários das escolas, não era precisa para nada, a criação de uma nova figura institucional nas escolas: o delegado ( ou coordenador) de segurança escolar!
Leiam, e pasmem! E conclua-se, mais uma vez, que este Ministério anda ao sabor do improviso, da negação das evidências e das estatísticas na mão, para europeu ver.
Neste caso, vem em equipa.
José
Etiquetas: Educação, Partido Socialista, Segurança Escolar
domingo, 22 de junho de 2008
O ESTADO DA UNIÃO
Os países Europeus, sobretudo os grandes e com mais responsabilidades, não podem deixar-se submeter às decisões dos mais pequenos, muito menos aos resultados de um referendo de que resultou uma maioria de escassos milhares de votos. Imaginar que toda a Europa possa ficar condicionada pelos irlandeses é quase uma deficiência intelectual. Tal como imaginar que a União, de carácter federalista, se possa fazer com a unanimidade dos Estados e dos povos. A França e a Alemanha, ajudadas pelos seus clientes e arrastando atrás de si os pequenos países que não se importam de ver aumentar as suas dependências, vão pois tomar as providências necessárias para que a constituição do Tratado de Lisboa seja aprovada. No que serão ajudadas pela enorme, luxuosa e apátrida burocracia europeia. Com ou sem Irlanda. Com ou sem favores prestados e dinheiros dados aos irlandeses. Não podia deixar de ser assim. Só nos contos de fadas é que os gnomos mandam e os anões derrotam os gigantes.
O referendo irlandês teve as suas virtudes. Revelou, uma vez mais, a crise europeia. Exibiu a verdadeira natureza desta União. E mostrou, sem deixar dúvidas, o caminho que esta se prepara para seguir. A reforma das instituições europeias ficará na história como um caso exemplar de esbulho de independências, de esmagamento pacífico de autonomias e de tentativa de destruição de culturas e de carácter. Toda a gente percebeu que a saga da aprovação do Tratado de Lisboa, depois de Maastricht e de Nice, tem como principal objectivo o de retirar poder aos povos e de lhes administrar as soluções das elites esclarecidas. O Tratado foi inventado para retirar aos povos a possibilidade de os discutir e aprovar. O Tratado é incompreensível? A Constituição é absurda? Tanto melhor. São documentos que, justamente, não devem ser compreendidos. E que oferecem explicações úteis para a indiferença crescente dos cidadãos. Votam em eleições e em referendo, dizem os iluminados, por razões nacionais e não por razões europeias! Votam, acrescentam, por causa da crise económica, das desigualdades, dos preços dos combustíveis, das questões laborais e da imigração. Na Irlanda, então, para cúmulo, dizem eles, o não foi motivado pelo aborto, pela eutanásia e pelos impostos. Tudo, asseguram, questões locais, paroquiais, nacionais, sem a importância dos reais problemas europeus. Estes argumentos, infantis e destituídos de qualquer inteligência, são repetidos candidamente por todos os servos, sobretudo juristas, da plutocracia europeia. E ninguém, entre essas luminárias, se deu ao trabalho de reflectir nas últimas eleições europeias que deram dois resultados inesquecíveis. Primeiro, uma enorme abstenção. Segundo, o facto de quase todos os que perderam essas eleições foram recompensados, directa e indirectamente, com cargos, responsabilidades e decisões nos actos que se seguiram. Chirac, Schroeder, Tony Blair e Durão Barroso, entre outros, perderam as eleições, mas, pelo jogo do federalismo, moldaram a União que se seguiu! De qualquer modo, ficámos a saber, mais uma vez: para os dirigentes europeus, o emprego, os impostos, a liberdade, a demografia, a família, o sistema de saúde, a educação, a idade de reforma, a legislação laboral e as desigualdades sociais não são questões europeias. Não são problemas relevantes!
A crise, muito séria, é a do desajustamento entre as intenções e as realidades. A do abismo irreversível que se instalou entre os Estados e as classes políticas, por um lado, e os povos e as sociedades, por outro. A do desvirtuamento definitivo do, sempre equívoco, projecto europeu, que vai perdendo os valores, que tanto proclamou, da diversidade, da autonomia e da liberdade. A da futilidade dos desejos das elites políticas europeias que pretendem unanimidade e federalismo, homogeneidade e uniformização. A Europa é vaidosa como uma velha gaiteira. E arrogante como um fidalgo falido de smoking coçado. Os seus dirigentes gabam-se do Estado de protecção mais generoso do mundo, da construção política mais original, da cultura mais consistente, das mais belas cidades, da liberdade mais enraizada e da paz mais duradoura. Ano após ano, os mitos vão ruindo. A cultura europeia é americana. O trabalho é imigrado. A produção é chinesa. O capital estrangeiro. A economia frágil. A ciência dependente. A tecnologia subalterna. A impotência manifesta. Os europeus não querem correr riscos, nem tratam da sua defesa. Estão disponíveis para negociar com o diabo. Não têm energia, não possuem forças armadas. Comportam-se como se tivessem um inimigo comum, os Estados Unidos. Não os terroristas, não as ditaduras, mas os Estados Unidos. Os europeus são cada vez mais utilizados por terceiros endinheirados que assim perdem o respeito por tanta cultura, tanta originalidade e tão glorioso passado. Os dinheiros do petróleo, dos armamentos, de todos os tráficos ilícitos e da grande especulação começam a mandar na Europa e a condicionar as suas políticas e a sua diplomacia.
A União vai sair, aparentemente, desta crise. Dentro de um ou dois anos, uma nova engenharia terá sido encontrada. Dentro ou fora, a Irlanda deixará de incomodar. Novas perturbações serão evitadas por novos mecanismos. Alguém virá dizer que a crise está ultrapassada e que a União entrará numa nova era. A mecânica da Comissão, do Conselho e do Parlamento Europeu estará oleada e preparada para funcionar a 27 ou mais. As decisões serão mais fáceis. Evidentemente, sabe-se, haverá alguns problemas. Na economia, na sociedade, no comércio externo, na ciência e na tecnologia. Forças centrífugas em acção. Dificuldades no emprego e no crescimento económico. Problemas sociais e demográficos. Conflitos laborais e desigualdades sociais. Deriva dos sistemas de saúde, educação e segurança. Aumento dos preços da energia e dos alimentos. Certo. Mas são todos problemas locais. Nada disso é europeu. A grande Europa, a grande União passa ao lado disso. Passa ao lado de questões menores.
António Barreto
Etiquetas: Constituição Europeia, Europa, Tratado de Lisboa, Tratado Europeu
sábado, 21 de junho de 2008
INSUSTENTÁVEL
- Então, esteve no buzinão?
- O buzinão, qual buzinão?
Tinha-me esquecido dessa convocatória de indignação cívica, a juntar à paralisação terrorista dos camionistas e a anteceder as marchas dos agricultores, dos taxistas e de todos os que querem gasóleo verde - isto é, os cidadãos todos a pagar parte do seu gasóleo.
- Pois eu estive!
O cidadão olhou para mim, de cima a baixo, não conseguindo disfarçar a desilusão que eu lhe havia causado.
- Ah... E buzinou contra quê? - perguntei, maldosamente.
- Contra quê? Contra o preço dos combustíveis, claro!
- Pois, o preço dos combustíveis... E buzinaram contra quem: contra os produtores de petróleo, contra os especuladores internacionais, contra os chineses e os indianos?
O homem olhou para mim como se o sol da manhã me tivesse feito mal à cabeça.
- Ora essa! O buzinão era contra o Governo, e isto é só o princípio!
E virou-me as costas, orgulhoso da sua prestação cívica e da lição que me havia dado. Vi-o embarcar no seu carro, com uma bandeirinha nacional flutuando à janela - sinal inequívoco de que ali estava um patriota de gema, que de manhã buzina contra o Governo, que não é capaz de inventar poços de petróleo, e o resto do dia buzina em apoio à nossa Selecção.
Ai, esta terra ainda vai cumprir o seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal...
Anteontem, os camionistas rebeldes formalizaram a constituição de uma nova Associação para contrapor à existente, que acusam de ter desconvocado a paralisação sem obterem do Governo a contrapartida de lhes subsidiar o gasóleo à custa dos contribuintes. Por eles, ainda estavam nas estradas, com o país a seus pés e o Estado de gatas. Que ninguém tenha dúvidas para que vai servir a nova Associação: agora, que provaram o poder inebriante de conseguir fazer ajoelhar o poder democrático em três dias e de terem estado à beira de ver um país inteiro a gritar com o Governo dêem-lhes tudo o que eles querem antes que a vida se torne insustentável para todos!, é certo, certíssimo, que os ditos rebeldes não se vão ficar por aqui. Eles perceberam que, nas sociedades modernas, há três coisas contra as quais um Estado democrático está basicamente indefeso: o terrorismo, a grande especulação financeira de um capitalismo global sem ética alguma e os camionistas.
A seu tempo, houve quem avisasse contra o entusiasmo com que a CP andou a desmantelar linhas e ligações que tinham custado o esforço financeiro de gerações a construir. Mas uma lógica de contabilista, incapaz de planear a mais longo prazo do que os balancetes semestrais, achou que se podia liquidar com vantagem o transporte ferroviário de mercadorias e pôr tudo na mão dos camionistas. E como, paralelamente, liquidámos a produção agrícola à força de subsídios para não produzir e em troca dos eucaliptos, dos campos de golfe e das urbanizações turísticas de interesse nacional, como, desgraçadamente, não produzimos um litro de gasóleo nem o poupamos, o país está inteiramente dependente dessa classe socioprofissional que acaba de nos pregar o susto da década.
Leio que a Procuradoria-Geral da República, muito legítima e louvavelmente, anuncia que vai processar os camionistas que cometeram crimes públicos, tais como apedrejamento de outros, obstrução da via pública, etc. Manda o bom senso que o Governo pondere bem no que se vai meter: um só herói dos camionistas processado criminalmente e lá temos o país outra vez a ferro e fogo. Aliás, como se pode processar no dia seguinte e por actos de guerra aqueles com quem na véspera se negociou a paz?
Ai, esta terra ainda vai ficar linda, um imenso salve-se quem puder...
Eu juro que não tenho nenhuma embirração particular pelo homem, que nem conheço de lado algum. Mas a verdade é que já vi o país atravessar alguns vinte ministros do Ambiente e nunca vi nenhum que fosse tão inútil, tão acomodado, tão verbo-de-encher, tão prejudicial à área que tutela como esta triste figura do actual ministro, eng. Nunes Correia, de sua desgraça. Não consigo entender, francamente, porque insiste o homem em ser tratado pela alcunha de ministro do Ambiente - a não ser pelo prazer de usar o sobrenome de ministro.
Sete anos e duas secas depois de se ter iniciado o estudo do Programa Nacional de Uso Eficiente da Água, dez anos depois de ter sido prometido que campos de golfe só com reaproveitamento das águas residuais, Sua Excelência acha que tornar essa regra obrigatória não é medida prioritária a incluir no dito plano. Pelo contrário, deve tratar-se de uma simples recomendação a ser adoptada numa base voluntária (dos 43 campos de golfe do Algarve, a somar a outros 20 já aprovados, apenas um, até hoje, aceitou voluntariamente a recomendação; existe localmente uma profusão de ETAR, construídas propositadamente para o efeito e que custaram dezenas de milhões de euros, que não estão a servir para nada, apenas para as estatísticas ambientalistas do Ministério).
Sua Excelência lembra que o golfe é uma âncora importante do desenvolvimento do turismo em Portugal. E Sua Excelência, muitíssimo mais preocupado com o turismo do que com o ambiente, não esquece que os jogadores de golfe têm duas características muito suas: primeiro, não gostam de repetir campos; mudam de campo como quem muda de camisa, o que justifica que mais de 6000 hectares do Algarve (muitos deles desafectados da Reserva Agrícola ou Ecológica) já estejam entregues ao golfe e consumindo um total de reservas de água equivalente a uma população permanente de meio milhão de pessoas - mais do que a população efectiva, que são 410 mil pessoas; por outro lado, eles também não gostam de pisar relvados regados com água que não seja pura, uma mania como outra qualquer.
Em contrapartida, o senhor ministro não leu o recente relatório do WWF, que prevê a intensificação da desertificação do território nacional a partir de 2020, devido às alterações climatéricas e à destruição progressiva do montado de sobro alentejano e algarvio, tal como o que está a ser promovido na região de Alqueva; não leu as recentes notícias sobre a falta de água em Espanha, de Barcelona a ser abastecida por navios-tanque, nem tomou conhecimento dos sucessivos relatórios sobre a desertificação e a crónica falta de água da Andaluzia e da Extremadura espanhola devido à necessidade de regar a praga dos campos de golfe, nascidos inconscientemente por todos os lados, como cogumelos selvagens. Sabiamente, Sua Excelência acha que as medidas só devem ser implementadas à medida que são necessárias e, por ora, ele está descansado que não vai faltar água nem para os cidadãos nem para o golfe (assim mesmo, em pé de igualdade). Sua Excelência, coitada, deve ser o único ministro do Ambiente que ainda não percebeu que a próxima e mais grave crise mundial não vai ser a da falta de energia, mas a da falta de água. Em 2020, aliás, é provável que Sua Excelência já se tenha reformado e esteja a ensaiar os seus putts num green regado a água do Luso.
Ai, esta terra ainda vai cumprir o seu destino fatal: ainda vai tornar-se um país insustentável
Miguel Sousa Tavares
Etiquetas: Ambiente, Combustiveis, Gasóleo, Gasolina, José Sócrates, Partido Socialista, Portugal o Grande Circo
ATÉ ONDE ISTO VAI PARAR...
Não sei se um caminho que vai no sentido de piorar ainda mais vai desembocar em algum paraíso lá mais para a frente, mas a mim parece-me mais que no fim deste caminho deve estar um qualquer precipício de onde nos vamos estatelar.
Ele não, que nessa altura deve estar a jogar golfe num qualquer campo do Allgarve, mas não nos podemos esquecer que é o mesmo que ainda há dois meses apregoava o fim da crise em Portugal e garantia que a crise internacional não nos ia afectar.
Merece realmente ser premiado.
K.
Etiquetas: Partido Socialista, Portugal, Portugal o Grande Circo, Portugueses Cada Vez Mais Tesos
sexta-feira, 20 de junho de 2008
SAUDINHA É QUE É PRECISO
A notícia vem no New York Times, que acrescenta que quem apresente mais barriga do que o autorizado pelo Governo (85 cm os homens e 89 as mulheres) tem três meses para emagrecer sob pena de ser sujeito a um programa de reeducação.
Entretanto, na Europa e EUA, as companhias aéreas preparam-se para cobrar bilhetes mais caros aos gordos.
Mas, pela amostra, não tarda que também os gordos, os sedentários, os hipertensos, os gulosos e os mal comidos em geral (incluindo os esfomeados) tenham a ASAE à perna e sejam obrigados a andar de estrela amarela ao peito.
A sustentabilidade e o deficit impõem sacrifícios a todos.
M.A.P.
Etiquetas: Saúde
quarta-feira, 18 de junho de 2008
ONDE PÁRA A ESQUERDA?
A esquerda não possui ideias de seu porque deixou de ler, de estudar, de reflectir, de analisar. Ajeitou o pretenso discurso a essa anomalia política, designada por pragmatismo, e impôs a sua definição de democracia ao funcionamento dominante do capitalismo.
A direita, que é forjada nos aparelhos ideológicos de escolas e de universidades, não despreza as ideias, apenas não precisa delas, porque dispõe de veículos privilegiados, como, por exemplo, a cultura, as artes e os media para a transmissão das suas heranças de poder. As omissões e os esquecimentos deliberados, a rasura de nomes, a preeminência de autores neutrais sobre outros, inscrevem-se nesse quadro.
Há mais de 40 anos que a esquerda tem como garantia insensata a solidez da democracia. Maio de 68 abalou a convicção, pondo em causa o estado de paz e o capitalismo no seu próprio excesso. A perplexidade, não só na sociedade em geral, mas no interior do Partido Comunista Francês, incapaz de encontrar respostas fora das contidas na cartilha, conduziu a um modelo operatório que o sentenciou. Alberto Morávia, num livro importante, Diário Europeu, afirmou, então, que os partidos comunistas ficariam reduzidos a uma espécie de travão social, cada vez mais com maiores dificuldades. A atitude interrogatória evaporou-se com a hegemonia do pensamento único. Com uma esquerda assim, a direita não precisa de ideias.
A complexidade dos acontecimentos mundiais, a derrocada do comunismo e a deterioração do socialismo abriram caminho à doutrina liberal, assente no mais nefasto retrocesso histórico de que há memória. Porém, no que parece a força inexpugnável do mercado e do que lhe subjaz, consiste, também, a sua fragilidade. O Estado português arquejou de pavor. Bastou que um movimento inorgânico juntasse os elos. Uma vez mais, Sócrates não percebeu os sinais. E a esquerda, no geral, também não. Mas algo de novo abalou o esquema.
B.B.
Etiquetas: CGTP, Esquerda, José Saramago, José Sócrates, Portugal
IRLANDA, EUROPA E DEMOCRACIA
Não há Europa
contra os cidadãos
E ganhou de forma clara (53.4 por cento), com a mais alta taxa de participação (53,13 por cento) dos últimos referendos europeus na Irlanda (designadamente em comparação com os dois referendos sobre o Tratado de Nice, com taxas de participação de, respectivamente, 35 e 49 por cento). A culpa não foi da abstenção. Podemos debater sobre as razões que motivaram o voto, mas devemos respeitar em absoluto a vontade democrática e soberana da maioria do povo irlandês.
Mesmo que não gostemos do resultado, mesmo que achemos que o novo Tratado, com o nome da nossa capital, Lisboa, representava um progresso necessário para a UE.
Das reacções, ainda quente, dos responsáveis europeus, parecem desenhar-se três cenários possíveis:
- criar as condições (políticas e jurídicas, mediante a negociação de novos protocolos explicativos) para a realização de um novo referendo
na Irlanda;
- seguir em frente sem a Irlanda (numa lógica de auto proclamados núcleos de vanguarda, que neste caso seria uma via extremamente perigosa e antidemocrática);
- declarar oficialmente a morte do Tratado de Lisboa (uma opinião por enquanto minoritária).
A hora deve ser de humildade e reflexão perante o funcionamento da democracia, no único país em que o povo foi chamado a pronunciar-se sobre o Tratado de Lisboa.
Não é sensato estar a dramatizar ou pessoalizar questões políticas desta gravidade. É certo que este Tratado tem Lisboa no nome, e que a presidência portuguesa cumpriu a missão da qual foi incumbida, mas a verdade é que a Europa funciona com os tratados actuais. O que se enfrenta na Europa é, antes de mais, um défice de liderança política.
E esse é um problema que nenhum tratado pode resolver. Os cidadãos europeus sentem-se cada vez mais desprotegidos face à globalização e à ameaça - muitas vezes em virtude de políticas adoptadas no seio da própria UE - às suas conquistas e direitos sociais (desde logo no emprego e na preservação da qualidade e acesso a serviços públicos essenciais).
Como já tive oportunidade de notar, este tratado não se limita a simplificar as regras de funcionamento da UE, mas altera, uma vez mais, os equilíbrios de poder no seio da União, em favor dos Estados mais populosos.
As regras são claras e iguais para todos: o tratado só entra em vigor depois de ter sido ratificado por todos os Estados membros da UE. Aplica-se o princípio da igualdade soberana dos Estados. Parece que há uns mais iguais que outros.
Não é aceitável o argumento de que um país de quatro milhões de habitantes não pode pôr em causa o futuro de 495 milhões. Os eleitores franceses e holandeses, cujo não em referendo esteve na origem desta crise, não foram chamados de novo às urnas. Aliás tudo se fez para evitar que isso acontecesse. Seria justo e eficaz forçar os irlandeses a Votarem de novo, até darem a resposta correcta?
O problema da Irlanda é um problema de todos nós. A estigmatização da Irlanda é um impulso antidemocrático e, no limite, antieuropeu. A ideia de Europa é indissociável de liberdade, tolerância e democracia.
A Europa não pode degenerar numa espécie de despotismo iluminado imposto aos povos por via burocrática, à socapa, quase às escondidas. E a Irlanda não pode ser encarada como uma nação mal comportada, que é preciso castigar por ter cometido a heresia de dar a palavra ao povo.
É preciso respeitar a vontade popular, gritava-se em 1975 nas ruas de Portugal. Pois é. E é por isso que, ainda que sendo a favor do sim, hoje me apetece dizer: Viva a Irlanda. Porque não há Europa sem respeito pela diferença. Não há Europa sem democracia. Não há Europa contra os cidadãos.
Manuel Alegre
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"YES"DE MOLLY BLOOM?
De uma maneira ou de outra, os países mais fortes apontavam a um directório a que se submeteriam os países mais fracos e tudo redundaria numa espécie de federalismo europeu de trazer por casa, substantivamente comandado por eles e formalmente por Bruxelas, com a singularidade de se dispensar um orçamento federal compatível e o picante de haver cada vez menos um espírito europeu partilhado e cada vez mais uma série de conflitos de interesses nacionais muitas vezes insolúveis...
De resto, quem ler a laboriosa concocção do texto de 2007, após a presidência alemã ter dado as suas instruções à presidência portuguesa, fica com a certeza de que nenhum chefe de Estado ou de Governo participante na CIG conhece bem o teor e as implicações daquilo que aprovou.
Na mecânica e nos detalhes (e quase sempre são estes o que mais conta), o Tratado de Lisboa só pode ser o produto da cerebração sibilina de altos funcionários nos bastidores das instituições europeias, muito em especial, do Conselho. A este vício genético, acrescem outros:
Foi politicamente muito imprudente o processo seguido na Convenção que levou à elaboração de um projecto de Constituição Europeia. Foi igualmente imprudente a sua proclamação urbi et orbi em Roma em 2004, como se via pouco depois com os desaires em França e na Holanda. Continuou a ser imprudente a repescagem e ressurreição que conduziram à minuta absolutamente incompreensível e à estruturação apressada, impulsionada pela presidência alemã, daquilo que veio a ser o Tratado de Lisboa.
A Constituição Europeia era um cadáver adiado. A Europa dos mais fortes não o percebeu ou não o quis perceber.
Agora, o projecto estatela-se mais uma vez, por acção de um pequeno país, por sinal aquela mesma Irlanda que era dada como paradigma dos benefícios da integração e do crescimento espectacular em poucos anos graças à Europa... Também este facto torna a rejeição do Tratado de Lisboa particularmente grave no contexto europeu e mesmo mundial.
O resultado mostra bem que a União Europeia continua a não ser possível com a arquitectura que se lhe pretendia impor, de cima para baixo. Coonestaram-se todos os expedientes para se fazer aprovar a Europa na secretaria. O falhanço é clamoroso, mas ainda se vai assistir a mais ginásticas conceptuais.
Por outro lado, o referendo. Sim, o referendo, entre nós evacuado expeditivamente pelos mesmos que se tinham comprometido a promovê- -lo... Sócrates perdeu uma boa ocasião de brilhar pela coerência, no que foi rapidamente seguido por um PSD a arrepiar caminho e a desdizer-se sem pestanejar.
O resultado traz um benefício manifesto aos partidos à esquerda do PS, referendistas por anti-europeísmo, quando, nos partidos moderados, quem pedia o referendo o fazia em nome da construção europeia e por causa dela, para que não se invocasse uma qualquer carência de legitimação a mais ou menos médio prazo. A responsabilidade de Sócrates está também em ter fingido que não percebia isto, entregando de bandeja à esquerda esse capital de reivindicação democrática, o que é tanto mais grave quanto é certo que, em Portugal, o sim teria ganho.
Já por aí se insinua nalguns sectores bem pensantes que a dimensão mínima de um país como a Irlanda não pode travar o motor que interessa a mais 26 Estados. É um exercício que pode ser feito quanto a mais de uma dúzia deles, incluindo o nosso... Este perigosíssimo argumento traduz um enorme desprezo pelos países mais pequenos e pelo princípio da igualdade entre os Estados.
Para já, entre ameaças, perspectivas de negociação e expectativas pouco consistentes, parece que se pretende que Molly Bloom reconsidere e também remate esta história com o seu yes. O pior é que é exactamente com pressas, álibis, expedientes, sofismas e simplificações grosseiras deste tipo que se esvazia o sentido dos valores europeus, se aliena o interesse dos cidadãos e se fica impedido de construir decentemente o futuro da União.
Vasco Graça Moura
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terça-feira, 17 de junho de 2008
EU SOU IRLANDÊS
Se os líderes europeus continuarem a querer iludir a morte da Constituição Europeia, agora disfarçada de Tratado de Lisboa, vão acabar os seus dias como Sísifo a rolar a pesada Constituição até o cume da montanha, para a verem, pouco antes de atingir o cume, rolar novamente montanha abaixo até o ponto de partida impulsionada pela força irresistível dos povos.
REXISTIR
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ENXERGÃO DA HIPOCRISIA
De acordo com esta alteração de leitos, que culmina muitos séculos de civilização, a democracia só é aceitável quando uma maioria concorda. Discordando, insiste-se quantas vezes foram necessárias até a maioria mudar de opinião. Ou então, simplesmente, a minoria concordante mas governante deita a opinião discordante da maioria para o lixo. Há ainda a modalidade portuguesa: mete-se a promessa da democracia na mesma gaveta onde jazem tralhas como o socialismo.
Os irlandeses chumbaram pela segunda vez um tratado europeu. Desta vez foi o Tratado porreiro, pá de Lisboa. No comum das democracias europeias já se aboliu a prática do referendo para questões complexas da governação em relação às quais o povinho não é entendido nem achado. Mas na Irlanda, por um imperativo constitucional – e só por isso – o povo é chamado a pronunciar-se em referendo sobre tratados internacionais. Com péssimos resultados para a democracia de pechisbeque que se cultiva nas instâncias europeias e em cada estado europeu. Fica agora ás escancaras porque razão o Governo português pura e simplesmente rasgou a promessa de submeter o Tratado a referendo.
Agora movem-se já as forças da Europa no sentido de promover novos referendos na Irlanda, tantos até que o povo, cansado, deixe de votar ou vote sim porque dizer que sim não faz doer a cabeça. Daqui a uns séculos, os historiadores vão designar com precisão os tempos que vivemos. Talvez qualquer coisa como pós-democracia. Mas nem ficarão para a História os nomes dos trapalhões que substituíram a democracia por esta coisa de plástico que substituiu o voto pelo poder oculto dos burocratas.
J.P.G.
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segunda-feira, 16 de junho de 2008
CENTO E VINTE ANOS E UNS DIAS DE LUCIDEZ
Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).
Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
E' estar ao lado da escala social,
E' não ser adaptável às normas da vida,
'As normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.
Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?
Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.
Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.
Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão
Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.
Álvaro de Campos
Etiquetas: Fernando Pessoa
ALENTEJO: ASSIM VAI A EDUCAÇÃO...
O meu filho saiu de casa com má cara.
Isto das férias serem adiadas para hoje não o convencem de maneira nenhuma.
A explicação absurda foi recorrente durante todo o fim-de-semana: Por causa do Sócrates (retirei o adjectivo) temos que ir à escola na segunda-feira, isto não cabe na cabeça de ninguém!
Lembro-me de outro tempo.
Nas salas de aula as figuras sinistras de Salazar e Tomás relembravam uma autoridade cinzenta, provinciana, fascista.
Nesse tempo qualquer visita, mesmo a do pároco local, era antecedida de grandes limpezas, ensaios de recepção sempre com o hino nacional a transformar os demónios em deuses.
A pobreza, essa, era camuflada pelas batas que tinham que vir imaculadas e engomadas a preceito.
A distância de 42 anos não apagou a essência dos actos do poder.
Este poder do Partido Socialista, protagonizado por José Sócrates, reencontra muitos elementos em comum com aquele que eu conheci quando tinha a idade do meu filho, num tempo marcado pela guerra colonial, a censura, as perseguições e prisões por delitos de opinião.
O telefone toca, apenas um toque.
Devolvo a chamada e de lá ele dispara: Pai a ministra acabou de ser recebida com um monte de assobios. Nunca tinha visto as televisões na escola, isto está tudo encerado, estão montes de emproadinhos e tias, o Zé Ernesto está ali à porta. Isto não parece a nossa Escola! Os professores estão ali em filinha, uns com cara de enjoados, outros com sorrisos amarelos. Quando o homem chegou houve mais assobios do que com a ministra. É que não estás bem a ver eram tantos assobios que os 3 ou 4 gatos pingados que começaram a bater palmas acabaram porque só se ouvia os assobios. Os assobios vinham dos que estavam atrás das grades mas também de quase todos os alunos. Depois começou a chover bué, bué, até parecia de propósito, os jornalistas fugiram para dentro do bloco C. O Sócrates com um sorrisinho cínico distribuiu apertos de mão, eu recusei!
Perguntei-lhe o que é que faziam na escola, se alguém os mandava para algum sítio.
Disse-me que não, tentaram sentar-se no auditório e uma emproadinha mandou-os levantar dizendo que os lugares eram para os convidados.
Pergunto ao senhor presidente do conselho executivo da Escola André de Gouveia, ao Senhor Director Regional de Educação, à Senhora Ministra da Educação, o que fazem hoje os alunos na escola, quem controla as suas entradas e saídas?
Serão apenas recorte humano para a imagem televisiva de José Sócrates?
ESTA É A MAIS EXECRÁVEL MANIPULAÇÃO DE JOVENS A QUE ASSISTI DESDE O TEMPO DO FASCISMO!
recebido por e-mail
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sexta-feira, 13 de junho de 2008
MORREU NAS URNAS... O TRATADO DE LISBOA
PORREIRO PÁ!
Fiquei contente, não tanto pelo fim do tratado (que não era porreiro, pá!), mas sobretudo pela derrota dos políticos que o quiseram impor aos respectivos povos!
Valentes irlandeses que fizeram justiça a todos quantos não tiveram possibilidade de se expressar!
ADEUS TRATADO DE LISBOA!
ADEUS EUROPA DOS PODEROSOS!
ADEUS EUROPA DO ECONOMICISMO LIBERAL!
ADEUS EUROPA LADRA DA DIGNIDADE DOS POBRES!
Portanto, está evidente porque é que os restantes governos aprovaram o tratado sem o referendar: sabiam que estavam a tomar decisões contra os interesses dos cidadãos, as quais não seriam aprovadas.
Quiseram impor o tratado como ditadores camaleões que são e deram com os burrinhos na água!
BEM FEITO!
É tempo dos políticos descerem à terra e perceberem de uma vez por todas que jamais conseguirão governar sempre contra o interesse das populações.
Podemos ser enganados algum tempo, mas não o tempo todo!
NÃO SOMOS ESTÚPIDOS!
Se se abrir nova crise na União Europeia, a culpa É TODA DOS POLÍTICOS que se julgam iluminados e não respeitam os concidadãos seus iguais!
Quem se comporta assim, não merece continuar a governar...
Portanto, eis mais um motivo para lhes indicarmos a porta da RUUUUAAAA!
C.L.M.
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OS IRLANDESES DERAM CABO DA CARREIRA POLÍTICA DO SÓCRATES...
É o que dá fazer perguntas ao povo numa quinta-feira e dar os resultados na sexta-feira 13.
P.S.
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O MUNDO LÁ DE CIMA E O MUNDO CÁ DE BAIXO
A instrumentalização do "desporto" por parte do poder político é um fenómeno de que a Antiguidade foi fértil. No contemporâneo, a dimensão adquirida constitui uma obscenidade. Muitas contendas ditas desportivas (no caso vertente: futebolísticas) não passam de esquemas políticos.
À Esquerda e à Direita o recurso a esse enclausuramento mental tolhe qualquer iniciativa antagónica. Porém, a circunstância de, momentaneamente, as vozes críticas serem minoritárias, não significa que elas se calem. Alguns preopinantes pós-modernos acusam de anacronismo aqueles que ainda protestam contra estes mercadores de ilusões, que transformaram (graças a uma campanha impressionante) o Euro-2008 numa questão nacional - ou nacionalista.
E quando Marcelo Rebelo de Sousa admite que o País deve mais a Cristiano Ronaldo do que a qualquer outro, o dito é escandaloso.
O mal-estar na sociedade portuguesa é anestesiado por esta catadupa de falsos valores, de falsos princípios, de falsos heróis, de falsas hipóteses, de falso patriotismo. De quantos brasileiros, apressadamente matriculados portugueses, possui a selecção nacional? E que motivou esses ternos guerreiros? O dinheiro, bem entendido, que até os levou a abjurar da própria nacionalidade. Há qualquer coisa de podre, de vil e de sórdido nesta doentia instrumentalização.
Há dias, a Notícias Magazine publicou um dramático apelo de D. Manuel Martins, primeiro bispo de Setúbal, e figura maior da Igreja.
E o documento prossegue: Espantam-nos, a sério, os dois mundos que se vão construindo em Portugal: o mundo lá de cima, dos ultra-ricos e dos ultra-remunerados, e o mundo cá de baixo, dos pobres e dos ultra-pobres. Até já os da faixa do meio sentem o terreno a fugir-lhes.
É curioso que esta demarcação de D. Manuel Martins coincida com afirmações de D. Manuel Clemente, bispo do Porto, o qual, num debate sobre o Código do Trabalho, realizado na Associação Católica do Porto, declarou, ante a irritação do ministro Vieira da Silva: As organizações sociais, perseguindo o seu bem específico ao serviço do bem comum, são um factor construtivo de ordem social e solidariedade, portanto um elemento indispensável da vida social (…) Sem pressão sindical poderia acontecer que a administração pública se esquecesse do seu papel.
As vozes destes dois homens foram praticamente ofuscadas pelo alarido futebolístico. Como nada acontece por acaso, convém não atribuir ao acaso os infortúnios da razão, que levam quem organiza o escalonamento dos noticiários (nos jornais, nas rádios e nas televisões) a inverter a importância dos factos e a dissimular o carácter político-social dos acontecimentos com a frivolidade, essencialmente mutável, do futebol.
José Sócrates, cuja arrogância começa a ser suicida, desprezou a manifestação dos duzentos mil, e cava, cada vez mais fundo, a separação entre os portugueses. Alguém tem de dizer a este homem que já lhe é difícil arrepiar caminho e dar um torção à Esquerda. Cometeu tropelias, injustiças e incompetências demasiado extensas e graves para que se lhe perdoe. Teve tudo na mão para equilibrar as coisas: até uma certa cumplicidade dos órgãos de informação, fatigados das desditas de Guterres, de Durão e de Santana. Não o fez. Segundo o insuspeito Joaquim Aguiar, ele não estava preparado para dirigir o País.
Tem sido acolitado por um grupo de subservientes, pouco ou nada apetrechados ideológica e culturalmente, que em nada o têm ajudado. Há dias, Vítor Ramalho, começou, ele também, a criticar a governação, e o próprio PS, revelando que não há debate nos núcleos socialistas. Recordo que, há anos, o PS dizia o mesmo do PCP, e, ainda recentemente, idêntica acusação foi formulada por sociais-democratas ao PSD. Não há debate nos partidos; não há debate na sociedade. O vazio impera.
Creio que Manuela Ferreira Leite apenas fará algumas mossas na carcaça do Governo. Ao contrário do que dizem os seus turiferários, ela não colhe nem as simpatias da totalidade dos companheiros, nem a empatia dos portugueses. Um guru tem afirmado o contrário e, inclusive, que a senhora unirá o partido. Todavia, o Santana não é para graças; o Passos é um pequeno falcão à espera; e Patinha Antão pode ter obtido um resultado escasso, mas (para minha surpresa e de muitos) revelou um sábio conhecimento dos dossiês. Além do que Manuela Ferreira Leite representa o que de mais cediço e arcaico existe na sociedade portuguesa. Não vai resolver nada: vai complicar tudo. E o seu apressado discurso social não dissimula a actividade praticada no Governo.
Manuela Ferreira Leite é mais do mesmo, igual a todo o mesmo. É uma soneira. José Sócrates, uma canseira. Como diria o Eça: Meninos, que ferro!
B.B.
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quinta-feira, 12 de junho de 2008
BASTA UMA FAGULHA...
Nesta conjuntura não é recomendável brincar com fogo nem com combustíveis.
M.
Etiquetas: Combustiveis, José Sócrates, Partido Socialista, Portugal, Portugal o Grande Circo
quarta-feira, 11 de junho de 2008
A (Ir)RESPONSÁVEL
A câmara é uma das responsáveis pelo encerramento da Delphi. Ou melhor, é a responsável pelo número de pessoas que vão para o desemprego.
Gonçalo Godinho e Santos
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